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13 de Maio de 2011

Esta manhã acordou com imenso nevoeiro e ao contrário do dia de ontem não me parece que vá estar um dia muito quente. Em termos clínicos posso dizer que tive alta hospitalar e estou novamente a 100%. Tomo o pequeno-almoço depressa porque é preciso compensar a curta etapa de ontem. Depois do check-out faço-me ao caminho e pedalo em direcção ao centro da Nazaré onde faço algumas compras.

Nazaré

Nazaré

Os planos para hoje são pedalar até à aldeia de Telhada; uma aldeia situada na freguesia de Paião, concelho da Figueira da Foz de onde são naturais os irmãos “Neves” – que conheci por Bragança enquanto por lá estudava (e não só) – e grandes amigos ficaram!

Depressa encontro uma estrada que me vai levar para norte, sempre junto à costa. Uns quilómetros depois tem início uma ciclovia em muito bom estado que me leva a crer que seja uma empreitada recente. Mais tarde descubro que se trata da Ciclovia da Estrada Atlântica que tem o seu início em Pataias; são cerca de 21 quilómetros de ciclovia – num conjunto de vários troços cicláveis, que ligam a Freguesia de Pataias e as suas diversas infra-estruturas às Praias do Norte do Concelho, através da Estrada Atlântica e foi inaugurada em 2007.

Ciclovia da Estrada Atlântica

Ciclovia da Estrada Atlântica

Entretanto o nevoeiro levantou e agora o sol brilha com intensidade aumentando a temperatura. Mas hoje sinto-me bem e sigo a bom ritmo. A primeira localidade digna desse nome é São Pedro de Moel, local com cerca de 250 habitantes e é nesta pequena localidade que me cruzo com dois cicloturistas. Ao contrário do que seria de esperar, não são dados a muitas conversas e não há lugar a uma pequena pausa para apresentações. Só consigo saber que são um casal de amigos holandeses que todos os anos, durante um mês, trocam o conforto das suas casas e a companhia de familiares e amigos, pela descoberta de um ou vários países de bicicleta – este ano, decidiram descobrir a península Ibérica. Num instante estamos a pedalar juntos porque tal como eu, rumam a norte.

Pinhal de Leiria

Pinhal de Leiria

Pedalamos agora num pinhal; o Pinhal de Leiria: andado plantar pelo rei D. Afonso III, no século XIII, com o intuito de travar o avanço e degradação das dunas, bem como proteger os terrenos agrícolas da sua degradação devido às areias transportadas pelo vento, e que se tornara uma grande preocupação para os habitantes da região. A mata é cerrada por isso ideal para um passeio de bicicleta e os parques de merendas e fontes de água abundam por todo o pinhal.

Depois de alguns quilómetros a pedalar no pinhal, voltamos à ciclovia e aqui, os meus recentes companheiros de viagem decidem parar para comer. Olho para o relógio e como ainda não são 12 horas, decido continuar e esperar reencontrar o pouco falador casal de holandeses.

A ciclovia agora é uma autêntica linha recta e a paisagem ao redor muito igual. Depois de quase 10kms a pedalar neste cenário, chego a Praia da Vieira. Uma localidade piscatória mas com óptimas condições para acolher os seus visitantes no verão. Para além de um simpático areal onde predominam as cores garridas dos toldos, são inúmeros os bares e esplanadas que se debruçam sobre a areia. É numa destas esplanadas que me sento para aproveitar a brisa do mar e almoçar.

Enquanto saboreio o café, consulto o meu mapa para delinear o percurso até ao meu destino, que pelas minhas contas, estará a 30kms. E para chegar ao meu destino vou ter que me afastar da costa e ir de encontro à estrada nacional que liga Leiria à Figueira da Foz – EN109.

Ciclovia da Estrada Atlântica

Ciclovia da Estrada Atlântica

Minutos depois de sair de Praia da Vieira reencontro os “holandeses” que aproveitam uma sombra para se abrigarem do sol e saborearem umas tangerinas que dizer ter sido um presente de um simpático agricultor. Partilham comigo algumas das tangerinas e agora sim estamos a comunicar. Perguntam-me qual vai ser o meu destino e descartado que está ficarem comigo em casa dos Neves, aconselho-os a irem até à Figueira da Foz e acampar no campismo local ou nas redondezas, em modo selvagem. Aceitam a “boleia” e pouco depois encontramos a EN109 e rapidamente percebo que é tanto do meu agrado este tipo de estradas, como é deles.

Mas para mim, a experiência dura pouco e pouco depois, tenho que tomar outra direcção que a deles e por isso é momento de despedidas e para uma fotografia.
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Daqui ao meu destino é um instante mas como é a primeira vez que visito os irmãos Neves, não sei qual é a casa deles, apesar de serem muito poucas. Por isso decido anunciar a minha chegada e as ordens são para esperar junto da pequena igreja da aldeia – o Neves mais velho está a caminho de Coimbra. Mas poucos minutos depois um homem numa mota passa por mim e tenho a sensação de que me conhece, mas continua a sua marcha sem parar.

Quando já estou prestes a adormecer deitado ao lado da pequena igreja, sou despertado pelo barulho de uma mota; é o mesmo homem mas desta vez não há dúvidas que me conhece de algum lado porque sorrindo pára ao meu lado e pergunta-me: “Tu é que és o amigo do João e do Nuno?”. Respondo que sim e prontamente se apresenta como sendo o padrinho/tio dos irmãos Neves e diz-me para o seguir que me leva até à casa.

Sou recebido muito bem pelos pais e pouco depois já estou com o pai e tio numa cozinha nas traseiras a provar da última colheita de tinto caseiro a acompanhar uma fatia de pão com chouriça 🙂 Por aqui vou passar o fim-de-semana…promete!

Até amanhã

12 de Maio de 2011

Apesar de estar muito bem instalado, na casa de gente muito boa, esta foi provavelmente a pior noite da minha viagem. A maldita inflamação na garganta não deu tréguas e com ela veio a febre e uma noite na qual pouco ou quase dormi.

Arrumo o quarto e desço onde já me espera o casal Policarpo. Há minha espera está um pequeno-almoço digno de um rei. Mas infelizmente tenho que fazer a desfeita e contra a minha vontade, não consigo comer nada. Apenas bebo água para hidratar um pouco, pois avizinha-se outro dia bastante quente.

As despedidas são novamente em tom de “até já”. Insistem comigo para ficar mais um dia e só partir depois de melhorar, mas estou decidido a visitar um médico o quanto antes e seguir caminho. Aconselham-me parar no centro de saúde da vila da Benedita (6km distância), local que também já conheço.

A viagem é curta e na vila é dia de feira e como tal, o centro de saúde está com a sala de espera cheia de utentes. Na recepção trato da papelada e as duas simpáticas meninas depressa mostram curiosidade pela natureza da minha viagem; aproveito uma cadeira livre mesmo ao lado do balcão e enquanto espero pela minha vez, explico ao pormenor o que é o 2B’s até ao preciso momento que me fez visitar o centro de saúde da vila da Benedita. Como não tenho consulta marcada, nem tão pouco sou utente, a espera é proporcional ao número de pessoas que enchem por completo a sala de espera e só quando todas as cadeiras e alguns lugares em pé ficam livres, uma das meninas me diz que o médico vai receber-me. A consulta é rápida e o diagnóstico/tratamento resume-se a uma receita de antibióticos para tratar a maldita inflamação na garganta. Ao despedir-me das recepcionistas, dou a entender que gostaria de tirar uma fotografia com elas, mas para meu espanto, envergonhadas, negam! Acreditem que dariam outra cor a este blogue, em que geralmente só surgem fotografias, ora de paisagens ora de um gajo em lycra a pedalar como um tolo…

À saída da vila encontro uma farmácia e atentamente ouço as instruções do farmacêutico para não facilitar o tratamento a esta maldita inflamação na garganta. Depois do primeiro comprimido é hora de voltar ao caminho. E sem dar por isso, já é quase hora de almoço :). Consulto o meu mapa e como o dia já vai quase a meio, decido que hoje vai ser uma etapa curta: almoço em Alcobaça e destino final o parque de campismo Orbitur da Nazaré. O regresso à costa.

O caminho até Alcobaça é quase na sua maioria a descer e hoje em particular, agrada-me. Não estou para esforços e sinto o cansaço de uma noite mal dormida. Chego a Alcobaça num piscar de olhos e ao entrar na cidade nenhuma recordação me vem à memória. Desconfio que seja a primeira vez que visito esta cidade.

A cidade de Alcobaça tem cerca de 18 mil habitantes e é o segundo concelho mais populoso da Comunidade Intermunicipal do Oeste e do distrito de Leiria. Composta pela freguesias de Alcobaça e parte das freguesias de Évora de Alcobaça, Prazeres (Aljubarrota), Maiorga e Vestiaria, Alcobaça deve o seu nome aos rios Alcoa e Baça, pelos quais é banhada, aglutinação de nomes que está longe de ser consensual entre a população. Deixo-me percorrer sem rumo pelas ruas da cidade e reparo que muitos grupos de turistas visitam a cidade, alguns deles estrangeiros. E como turista que sou, quero ver e saber que monumento encontro por acaso – nada mais nada menos que o um dos maiores patrimónios edificados da cidade: o Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, também conhecido como Real Abadia de Santa Maria de Alcobaça ou mais simplesmente como Mosteiro de Alcobaça.

O Mosteiro de Alcobaça é a primeira obra plenamente gótica erguida em solo português. A sua construção teve início em 1178 pelos monges de Cister. Está classificado como Património da Humanidade pela UNESCO e como Monumento Nacional, desde 1910. Em 7 de Julho de 2007 foi eleito como uma das sete maravilhas de Portugal. Em 1834 os monges foram obrigados a abandonar o mosteiro, na sequência da expulsão de todas as ordens religiosas de Portugal durante a administração de Joaquim António de Aguiar, um primeiro-ministro notório pela sua política antieclesiástica.

Fachada principal do Mosteiro


Fachada norte do Mosteiro


Dormitório, metade sul


Túmulo de D. Pedro, pormenor


Túmulo de Inês de Castro


Claustros do Rachadoiro e da Levada, lado norte

O monumento é imenso e merece, obrigatoriamente, uma visita assim como a própria cidade. A decisão de almoçar por aqui, não podia ter sido mais acertada.

A maldita inflamação na garganta finalmente está a deixar-se vencer pelo poder dos antibióticos e posso novamente, ainda que aos poucos, comer de tudo! Terminado o almoço volto à estrada. O parque de campismo Orbitur da Nazaré está a pouco mais de 10km de distância e assim, fico com muito tempo para repousar e recuperar completamente.

O parque de campismo fica a 2 Km da Nazaré, situado no topo que antecede o centro da vila, tem óptimas sombras devido à sua localização num belo pinhal. E hoje é o meu dia de sorte no que toca à simpatia feminina. Depois da dupla na recepção do centro de saúde da Benedita, a recepcionista do parque de campismo é um exemplo de bem receber. Prolonga-se em explicações e informações sobre a vila e locais de interesse, sem deixar de ao mesmo tempo mostrar curiosidade pela minha odisseia em duas rodas.

Instalo-me junto de algumas auto-caravanas e tendas; depressa travo conhecimentos e a conversa torna-se fácil. Tenho ajuda para montar a tenda e tenho até direito a uma cerveja da Bélgica, gesto de boas vindas dos meus vizinhos Belgas: “La bière est très bonne, merci!”. São cerca das 15h e o campismo está quase despido de pessoas, uma paz e serenidade invade todo o espaço verde do parque…deixo-me “cair” na tenda e em questão de segundos, estou num sono profundo.

[cerca de 4horas depois…]

Acordo com a chegada da praia dos vizinhos Belgas – mas que bela soneca :). Tomo um banho e vou às compras no supermercado do parque para preparar o jantar. Massa com atum e molho de tomate: uma delícia!

O dia está a acabar e fico feliz pela maldita inflamação na garganta ter quase desaparecido por completo. A noite vai ser bem passada com certeza.

Até amanhã

PS: usei a expressão “maldita inflamação na garganta” 6 vezes!

11 de Maio de 2011

Hoje acordei bem disposto e a ajudar, o calor do sol e uma fresca brisa do mar, esperam-me fora da tenda. Depois de tomar o pequeno-almoço e arrumar toda a tralha, faço o check-out do parque de campismo. Apesar de mais uma vez ter sido uma estadia curta, as boas impressões que tinha criado no dia anterior, confirmaram-se por inteiro “na hora da despedida”! Recomendo…

Parque de campismo da Ericeira

Já na estrada a pedalar, entro em modo planeamento e traço por linhas mentais, o que na véspera tinha observado no mapa, o caminho para o meu destino de hoje: Venda da Costa, Caldas da Rainha. E porque este destino? Porque é lá que vivem os pais de um grande amigo de faculdade e agora a viver na Holanda: o Miguel Policarpo (o “Poli”).

“Praia considerada por especialistas como a melhor da Europa para a prática de Surf. Desde 1985 e palco de vários campeonatos mundiais de Surf.” – pode-se ser numa placa à entrada da praia da Ribeira d’Ilhas

Logo à saída do parque de campismo volta a passar pela praia da Ribeira d’Ilhas e os surfistas já aproveitam as muitas ondas que esta linda praia proporciona.

Sigo caminho pela estrada nacional 8 (EN8) que aos pouco me vai afastando da costa em direcção a Torres Vedras, onde se celebra um das poucas festividades de Carnaval que se mantêm fiéis às tradições da comemoração do entrudo em Portugal. Este Carnaval distingue-se na celebração dos festejos contando com a participação espontânea e massiva dos cidadãos.

Ao chegar à entrada da cidade de Torres Vedras encontro um parque e decido parar para uma breve pausa. Algo que está a incomodar nesta manhã é uma ligeira dor de garganta. Procuro na minha “farmácia” algo para aliviar as dores: benuron e aquelas pastilhas com sabor a limão…deve chegar!

Depois da auto-medicação é momento de voltar à estrada. O calor aperta cada vez mais e algumas subidas fazem aumentar ainda mais a sensação de calor. Passo por algumas dificuldades e levo cerca de 1 hora e meia para percorrer os cerca de 25km que separam Torres Vedras de Bombarral. Ao chegar ao centro da vila, dou-me conta que a dor de garganta não passou, pelo contrário! O simples acto de beber água já se tornou muito complicado. Não é preciso ser um “Dr.House” para perceber que estou com uma forte inflamação na garganta :(.

Pedalo até à Praça do Município e escolho um restaurante mesmo no centro da praça. Apesar do calor, peço uma sopa passada por sentir que a garganta não tolera comida “normal”. Rapidamente almoço e volto à estrada. O meu pensamento já está em chegar ao meu destino de hoje; poder descansar e tratar como deve ser, esta dor de garganta.

Depressa chego a Óbidos e noutro dia, com outra disposição, teria dedicado uns momentos, para uma visita ao centro desta muito pitoresca vila Portuguesa. Sigo caminho e pouco depois passo por um jovem de bicicleta. Pedalamos lado a lado e depois das habituais perguntas, o jovem decide dar um ar da sua graça e mostra-me toda a sua habilidade para o tão famoso “cavalinho”. O verdadeiro “de roda no ar”!

Entretanto os quilómetros vão-se acumulando e pedalo por estradas e caminhos que não me são completamente estranhos. O Policarpo é um velho amigo e no passado já o visitei na sua terra natal, por mais do que uma vez. Mas o caminho para a casa que me vai receber hoje não se apresenta fácil. Uma coisa é percorrermos de automóvel um certo caminho, outro é chegarmos a esse caminho de bicicleta. Mas com a ajuda de alguns populares e depois de um furo, finalmente chego ao meu destino. É a mãe do meu amigo Poli que me recebe e fico feliz por mais uma vez ser recebido com tanta amabilidade.

Ao jantar junta-se o Sr. Policarpo e tento responder a todas as perguntas com que são bombardeado. E assim chegamos à sobremesa, ao café e mesmo quando a telenovela é sintonizada na televisão. Uma noite muita agradável que quase me fez esquecer da dor de garganta que teima sobreviver aos medicamentos.

Até amanhã

PS: D. José da Cruz Cardeal Policarpo, Cardeal-Patriarca de Lisboa é de facto familiar do meu amigo e sua família.

10 de Maio de 2011

Foram três dias repletos de descanso na cidade capital de Portugal. Ao contrário do que poderiam pensar, passeei muito pouco. Aproveitei para estar com alguns amigos e reencontrar velhas amizades que o tempo parecia ter, irremediavelmente, condenado ao esquecimento.

O tempo foi passado em casa, na companhia de boa gente, boa comida e muita bebida ;).

Depois de três dias inteiros sem pedalar, já sinto uma vontade enorme de voltar à estrada. O fim desta aventura está quase a chegar, restando “apenas” cerca de 350km para percorrer. A minha ideia para o dia de hoje é pedalar em direcção ao litoral e procurar um pouco de frescura. São 10h em ponto e o termómetro já marca 28 graus Celsius.

Mas encontrar o caminho para sair de Lisboa não se revela fácil. O trânsito em Lisboa não é propriamente o mais amigável para quem usa a bicicleta para se deslocar; as ciclovias são quase inexistente e a falta de civismo de alguns condutores, tornam a tarefa de sair de Lisboa, muito difícil. Quase uma hora depois já percorro uma estrada nacional em direcção a Odivelas e depois, Loures.

Depois de Loures, encontro a freguesia da Lousa (Loures). É terreno montanhoso mas de rara beleza. Atravesso um vale com um pequeno rio. Cheira a flores de primavera e o barulho da água a descer a montanha, lembram-me que ainda à bem pouco tempo estava no meio de uma selva de automóveis conduzidos por autênticos selvagens e agora…esta tranquilidade e paz natural.

O corpo está a reagir bem ao esforço que faço para vencer algumas subidas. Mais dificuldade tenho em manter os índices de hidratação altos, tal é o calor que se faz sentir neste belo dia de sol. Depois da Lousa, ao chegar à localidade de Malveira, mesmo antes de chegar a Mafra, encontro um ciclista que me faz companhia durante alguns quilómetros. É um senhor já com uma certa idade mas isso não o impede de manter um bom ritmo, mesmo a subir. E quando ele começa a distanciar-se de mim, abranda um pouco o ritmo e começa a puxar por mim: “Vamos lá…Já falta pouco..Ai eu com a tua idade…” :D. Um pouco antes de chegarmos a Mafra, o meu companheira de estrada tomo outro sentido e só tenho mesmo tempo de lhe desejar um bom dia de “pedal”.

São cerca das 14h quando chego a Mafra. Não é a primeira vez que visito esta cidade, mas fico sempre impressionado pela imponência do Palácio Nacional de Mafra. De estilo Barroco, o palácio começou a ser construído em 1717 por iniciativa de João V de Portugal, em virtude de uma promessa que o jovem Paulo Lourenço fizera se a rainha D. Maria Ana de Áustria lhe desse descendência. Classificado como Monumento Nacional em 1910, foi um dos finalistas para uma das Sete Maravilhas de Portugal a 7 de Julho de 2007.

Decido parar numa esplanada de um restaurante mesmo em frente ao Palácio de Mafra e como a fome é muita, peço o menu do dia. Frango no churrasco acompanhado por uma travessa de batatas fritas e uma fresca salada de alface e tomate. Para beber duas coca-colas para repor açucares e matar um pouco a sede.

O almoço prolonga-se por um par de horas e não intenções de regressar à estrada tão cedo, pois o calor ainda se faz sentir com grande intensidade. Aproveita esta pausa para contactar um grande amigo que é precisamente de Mafra: o “grande” Sabino. Não vou mentir, lá no fundo tenho a esperança que me convide para casa dele, mas infelizmente não vai ser possível. Ele e a “patroa” estão com alguns problemas matrimoniais e a minha presença poderá não ser assim tão bem vinda :).

Mas como grande amigo que é, aconselha-me a ir até Ericeira, até porque Mafra tem uma fraca oferta em termos de acomodações. Combinamos jantar e eu preparo-me para voltar à estrada.

Já a pedalar, ao sair de Mafra passo pela loja oficial Specialized de Mafra. Quando preparava esta viagem, contactei esta loja na procura de apoios na compra da bicicleta. Na altura tiveram o cuidado de me contactarem por telefone a felicitar-me pelo projecto e que infelizmente, não poderiam apoiar alguém que não fosse da região. Gostei da atitude e por isso, decidi parar para cumprimentar as pessoas da loja.

Apenas uma pessoa está na loja e quando “estaciono” a minha Specialized à porta, sou logo reconhecido: “Olha o gajo de Braga!”. Conversamos sobre a viagem e sobre bicicletas no geral. Ele oferece-se para fazer uma revisão muito geral e rápida – afinação dos travões e um pouco de ar nos pneus (talvez demasiado) – estou pronto para regressar à estrada.

Os poucos quilómetros que me separam da Ericeira são já percorridos ao final da tarde embalado por uma leve brisa que sopra a meu favor. Vou directo em direcção ao parque de campismo e mesmo antes de chegar passo por uma rotunda bastante original: é redonda como todas as outras mas no centro uma escultura original retrata um dos símbolos desta vila – o surf.


Faço o check-in no parque de campismo da Ericeira e as primeiras impressão não poderiam ser as melhores. O parque tem excelentes condições. Depois de montar a tenda e arrumar todo o material, tomo um banho bem fresco e dou um pequeno passeio pelo parque.

À hora marcada, o meu amigo Sabino está à entrada do parque. Vamos primeiro a uma praia muito conhecida pela sua ligação ao surf. Na Ericeira, o surf atinge aqui níveis superiores, sendo, por isso, organizadas regularmente neste local provas internacionais que aqui trazem os melhores surfistas do mundo! E apesar de já ser tarde e estarmos no início de Maio, são dezenas de surfistas que aproveitam as últimas ondas e os últimos raios de sol. Uma hora depois já estamos em direcção ao centro da vila para procurarmos um restaurante.

A Ericeira é uma pitoresca vila piscatória que tem o mar como fonte inspiradora. Cheira a mar não só do próprio mar como também dos restaurantes de peixe e marisco sempre fresco e até o ambiente que se vive nas ruas, tudo tem a ver com o mar. E aqui não vemos o mar da mesma maneira que noutros sítios. É, de facto, verdade o que diz a canção: “Ericeira, onde o mar é mais azul…” :).

Encontramos um pequeno mas bonito restaurante de peixe e marisco. O atendimento é simpático e escolho um arroz de polvo para comer. A escolha do vinho fica a carga do Sabino. Com este amigo o serão é sempre muito bem passado e sem darmos por isso, somos os únicos no restaurante e o cansaço começa a tomar conta do meu corpo.

Já de regresso ao parque de campismo, despeço-me do Sabino e agradeço-lhe o tempo que passou comigo, tendo em conta os problemas em casa :). O resto já sabem: xixi-tenda e toca a descansar.

Até amanhã.

6 de Maio de 2011

Como já esperava dormi muito bem e cada vez mais sou um fã do campismo selvagem. Sendo sexta-feira e estar relativamente próximo de Lisboa, parto de Vila Nova de Sto. André com essa meta na cabeça: a capital.

Está um dia esquisito. O céu está parcialmente nublado e apesar do sol não se mostrar, está calor e sinto muita humidade no ar. Esta zona que agora percorro não é muito habitada. Algumas pequenas localidades comprovam que aqui à vida, embora esta manhã ainda não tenha visto ninguém. Isso só acontece quando paro um pequeno café para comprar água. Mas o senhor que me atende não está para grandes diálogos e depois de eu pagar o que devo, “desaparece” nas traseiras do café. Mato a sede e continuo a minha travessia do pouco que ainda me resta da costa alentejana.

Para chegar à margem sul do rio Tejo tenho duas opções: ou sigo em direcção a Alcácer do Sal, contornando o estuário do rio Sado, viajando sempre por terra; ou então sigo em direcção à península de Tróia e depois de barco, atravesso o estuário do rio Sado. Decido pela segunda opção pela curiosidade da travessia de barco :).

Já entrei na península de Tróia e é engraçado reparar, nos pontos mais altos, que estou rodeado de água. Quando já consigo deslumbrar ao longe a cidade de Setúbal, vejo as indicações do local de partida e chegada do ferry-boat que faz a ligação Setúbal Península de Tróia. O serviço de transporte fluvial está entregue à empresa “Atlantic Ferries”. Depois de comprar o bilhete, chego ao local de embarque onde já se encontram alguns automóveis…o ferry não deve demorar.

Passados cerca de 10 minutos já vejo o barco. O verde vivo que cobre toda a embarcação chama a atenção “a milhas”. O ferry depois de atracar e de se imobilizar por completo, baixa uma rampa e os automóveis e pessoas que transporta, abandonam a embarcação. Agora é a minha vez.

Entretanto o céu está limpo e o sol brilha com intensidade. As águas estão calmas e depois de todos estarem a bordo, o ferry começa a navegar em direcção a Setúbal. São cerca de 20 minutos muito descontraídos onde aproveito para com a ajuda do meu mapa, traçar mentalmente o meu trajecto mal chegue a terra.

De novo com os pés em terra, sigo o meu caminho, sempre em direcção ao norte. Mas pela frente tenho um “alto” desafio que dá pelo nome de Serra da Arrábida. Como o próprio nome, é uma serra situada na margem norte do estuário do Rio Sado, na Península de Setúbal, com o ponto mais alto a 501 metros de altitude. Não atinjo o ponto mais alto da serra mas ainda assim é um trajecto muito íngreme, expondo toda a sua beleza natural.

Conquistado o ponto mais alto da serra, agora o trajecto é bem menos sinuoso e plano. Aproveito para fazer uma pequena pausa e entrar em contacto com um amigo de faculdade que vive agora em Lisboa. O João Pedro é natural da Telhada, Figueira da Foz e vai estar por Lisboa durante o fim-de-semana e está disponível para me receber em casa dele. Com lugar para ficar resta-me seguir caminho em direcção à cidade do Barreiro, onde tenho barco para atravessar o rio Tejo – do outro lado é Lisboa.

O dia já vai longo e o cansaço começa a fazer-se sentir. As nuvens cobrem agora o céu e a chuva parece iminente. O serviço de transporte fluvial está entregue às empresas: “Transtejo” e “Soflusa”. Para minha sorte ao chegar ao terminal está um barco (catamarã) prestes a partir. Compro o bilhete a “pedalar” e por segundos consigo embarcar. Depois de arrumar a bicicleta num espaço próprio para o efeito, sento-me e lancho uma banana e umas bolachas.

A viagem é curta mas ainda assim o tempo suficiente para eu “passar pelas brasas”. Acordo com o alvoroço das pessoas a desembarcar. Finalmente estou na capital de Portugal: Lisboa. À minha frente tenho agora a Praça do Comércio, mais conhecido por Terreiro do Paço e em plena praça, decorre um espécie de comício ao ar livre do Partido Comunista Português (PCP). Uma voz que me soa familiar ouve-se por entre a pequena multidão, mas não consigo ver a pessoa.

Depois de atravessar quase toda a praça, consigo finalmente ver a pessoa que num pequeno palanque discursa, num tom sério: A inconfundível e incontornável, Odete Santos. Não presto atenção ao seu discurso mas apenas para a personagem única que é esta senhora. Parece uma actriz cujo papel é representar no palco da realidade. Cada gesto, cada palavra, cada olhar, parece encenado e tirado de um guião escrito pelos deuses da representação.

Depois do “Odete Santos Show” sigo o meu caminho. Tenho a morada do meu anfitrião e pelas informações que consigo obter de um polícia da cidade, a casa dele não fica longe. Mas para quem já percorreu quase uma centena de quilómetros, o “pouco” começa a parecer muito.

Levo cerca de 30 minutos a chegar ao meu destino para a etapa de hoje. Porém o meu anfitrião: João Pedro só chega a casa pelas 19h, ou seja, tenho pela frente cerca de 2 horas de espera pela frente.

Sento-me numa esplanada e bebo uma coca-cola e escrevo no papel algumas destas palavras. Entretanto o tempo piora e decido voltar para perto da casa do João. Estou à chuva e começo a sentir algum frio. O meu anfitrião não poderia ter um timing mais oportuno para chegar a casa. Deixo a chuva e o João ajuda-me a transportar a minha bagagem para o 2º andar onde ele vive com mais três inquilinos.

Finalmente estou instalado e agora é tempo de descanso depois de mais uma etapa longa, mas onde mais uma vez atingi a meta traçada no início do dia.

Até amanhã.